Blog do José Ribeiro Júnior

Judaísmo, mais que uma religião, um estilo de vida

Pratique a Torah, pois, Judaísmo é prática.

Bnei Anussim

Nordeste, reduto dos cripto-judeus.

Judaísmo Sefaradi

Brasil e os Bnei Anussim.

Judaísmo e os seus aspectos

Aspectos judaicos presentes na cultura brasileira e nordestina.

Identidade Judaica

Os desafios de se viver uma identidade plena.

30 junho 2018

Panorama Sociopolítico do Judaísmo


AULA Nº 02 – 27 de Junho de 2018

O Judaísmo é composto por inúmeras definições, baseadas em várias e diferenciadas opiniões de grupos e/ou indivíduos. Tal perspectiva pode ser evidenciada no quantitativo de divisões e micro divisões existentes, que caracterizam o lodo sociopolítico do modo de vida judaico.
Nesse sentido, cabe ressaltar-se que existem três grandes esferas (esquerda, centro e direita), que compõem suas específicas divisões (extrema-esquerda, esquerda, centro-esquerda, centro, centro-direita, direita e extrema-direita), ao qual se ajustam os grupos religiosos e sociais desta dinâmica.
Com base nesse pressuposto, os grupos que representam o universo sociopolítico do Judaísmo, dentro de um formato religioso ou filosófico, são: Humanistas, Judaísmo Liberal/Progressista – com as linhas: Reformista, Reconstrucionista, Conservador (Masorti) –, Centristas, Ophen Orthodoxy, Judaísmo Ortodoxo (e Ultraortodoxo) – com suas linhas: Modern Orthodox, Dati Leumi, Ortodoxia não-Hassídica, Yeshivish, Hassídico, e Haredi. Destes grupos ou alas mencionadas, uns são reconhecidos pelo Estado de Israel, outros pelo Estado e o Rabinato, e outros, somente são reconhecidos alguns indivíduos, que compõem tais alas (Humanistas e Centristas).

Fonte: SILVA JÚNIOR, J. R., 2018.

Assim, eis a definição de cada um destes mencionados:

ü  Humanistas – Ala de extrema-esquerda, composta por indivíduos não-religiosos (em muitos casos até ateus), que possuem como foco a natureza humana e suas produções, a exemplo de Karl Marx (1818 – 1883), e entre outros, que são judeus reconhecidos pelo Estado de Israel, mas, não acreditam ou não dão ênfase a nenhuma figura Divina ou religiosa.


ü  Judaísmo Liberal/Progressista – Esta corrente de cunho centro-esquerda surgiu no leste-europeu, no século XIX, com o intuito de promover uma oposição às contradições da ortodoxia judaica da época. Para essa corrente, é Judeu (ou Judia), tanto os(as) filhos(as) de mãe judia, quanto os(as) filhos(as) de pai judeu, ou quem fez um beit din liberal ou ortodoxo. Desta corrente, surgiram os seguintes grupos (linhas):
1.   Reformista – Esta linha foi à primeira do Judaísmo Liberal, sendo ela fundada na Alemanha, no século XIX, vindo a ganhar força ao chegar aos EUA, por volta de 1840. É composto por duas micro divisões: os reformistas clássicos e os tradicionalistas. Para esta linha a Torah é à base de tudo, sendo que, sua principal convicção está no fato de que as leis são universais, logo, se adequam as necessidades da vida cotidiana, em sinal de evolução do homem, e do conceito de atemporalidade da Torah, com forte ênfase na inclusão social. Sendo que homens e mulheres possuem os mesmos direitos, logo, podem ser ordenados a cargos religiosos;


2.   Reconstrucionista – Esta linha é o resultado da divisão ocorrida com o movimento Conservador, sendo assim, trata-se da divisão de uma divisão do Judaísmo Reformista, considerando que o Judaísmo Conservador é fruto de uma divisão dos reformistas, ou seja, os reformistas se dividiram, formando os conservadores, que se dividiram formando os reconstrucionistas, em meados dos anos de 1920 a 1940. Para esta linha a Torah é à base de tudo, e sua ênfase se encontra no constante processo de evolução do ser humano, e na sua respectiva capacidade de tomar decisões democraticamente, transformando o mundo em sua volta. Sendo que homens e mulheres possuem os mesmos direitos, logo, podem ser ordenados a cargos religiosos;


3.   Conservador (Masorti) – Esta linha surgiu após a década de 1850, na Alemanha, ganhando forças ao chegar aos EUA, no início do século XX. Sendo esta, o resultado de uma divisão do Judaísmo Reformista. Conforme as demais linhas do Judaísmo Liberal, para os conservadores a Torah é à base de tudo, sendo que acreditam que por mais evolutiva possa se apresentar a contemporaneidade, as mitzvot necessitam manter-se inalteráveis. Sendo que, homens e mulheres possuem os mesmos direitos para o serviço religioso em algumas sinagogas, enquanto em outras, apenas os homens possuem esse direito.


ü  Centristas – Ala genuinamente central, composta por indivíduos religiosos mas que não se identificam com um grupo religioso específico, a exemplo de Albert Einstein (1879–1955), e entre outros, que são judeus reconhecidos pelo Estado de Israel, mas, não participam de grupos religiosos.


ü  Ophen Orthodoxy – Conhecida como Ortodoxia Aberta, este grupo pertence à ala central do Judaísmo político e, embora utilize o termo ortodoxia, não possui nenhum vínculo com o sistema ortodoxo. Tal grupo foi fundado recentemente, pelo rabino Avi Weiss, ao qual pertencia a Modern Orthodox, ligada a ortodoxia de centro-direita do Judaísmo. A mesma, defende a igualdade de gênero, por meio do ordenamento de homens e mulheres aos cargos de lideranças religiosas, além de realizar oposição a alguns critérios ortodoxos, a exemplo do combate ao exclusivismo, razão pela qual as mulheres passariam a ter os mesmos direitos em relação aos homens.


ü  Judaísmo Ortodoxo – Esta corrente de cunho centro-direita, direita e extrema direita do Judaísmo político, surgiu como continuidade daquilo que se acredita como a sequência dos grandes atributos históricos e filosóficos do Judaísmo, pautado na Halachá e ensinamentos difundidos por grandes sábios do povo judeu, ao longo dos séculos. Para esta corrente, só é Judeu (ou Judia), quem é filho(a) de mãe Judia, ou se converteu num beit din ortodoxo. Além de que, homens e mulheres não possuem os mesmos direitos, em se tratando de cargos ou funções da vida religiosa. Desta corrente, surgiram os seguintes grupos (linhas):
1.   Modern Orthodox – Esta linha se configura como sendo de centro-direita, foi criado a partir de 1935, nos EUA, por meio da necessidade de muitos membros em seguir uma ortodoxia e, ao mesmo tempo, que não fosse desvinculada com a realidade contemporânea. A exemplo dos demais grupos ortodoxos, a Torah e os demais livros dos sábios judeus renomados, são a base de sustentação espiritual e social. Dos grupos ortodoxos, este é o mais aberto, considerando a capacidade de cada membro seguir os padrões da Halachá e, ao mesmo tempo, adequando cada lei a sua rotina específica. Nesse sentido, torna-se comum numa sinagoga Ortodoxa Moderna, encontrar-se judeus das mais variadas formas, seja no modo de se vestir, ou de se posicionar;


2.   Dati Leumi – Esta linha se configura como sendo de direita, tendo surgido ao final do século XIX, a partir da necessidade de manter-se o padrão de vida ortodoxo, conciliado a interesses políticos ligados a fundação do Estado de Israel. Com isso, tal grupo presa o fator político sionista, tal como presa o fator espiritual;


3.   Ortodoxia não-Hassídica – Este grupo se configura como sendo de direita, tendo sido criado em meados do século XVIII na Europa. Os mesmos possuem como ideologia, o princípio de que todas as mitzvot necessitam ser observadas, tal como foram entregues no Sinai. A divisão do ensino entre “escolas para meninos” e “escolas para meninas”, revelam o quanto são restritos e exclusivistas, diferenciando-se das demais correntes mais acirradas da ortodoxia, pelo fato de considerarem importante alguns estudos seculares e a utilização controlada do uso das tecnologias;


4.   Yeshivish – Este grupo se configura como sendo de direita, embora não seja uma divisão oficial da ortodoxia judaica (por não terem um organismo sistemático próprio), mas, é um grupo que na prática existe, sendo formado por alguns membros do judaísmo ortodoxo norte-americano, em geral, que possuem algo em comum, que é o fato de falarem, agirem e viverem, como se estivessem 24h dentro de uma Yeshivah, independente do local que estejam, ou com quem estejam;


5.    Hassídico – Esta linha se configura como sendo de direita, a mesma foi fundada em meados do século XVIII, por meio da influência dos ensinamentos de Baal Shem Tov. Tal grupo tem como principal aspecto, o credo aprofundado no misticismo judaico, além de possuírem uma rigorosa assiduidade em relação à Halachá, ao ponto de que, se na Halachá for solicitado que um judeu mantenha a distância de 2m de uma mulher, os hassidim manterão 5m de distância. Ao longo da história, já houveram mais de 100 grupos, até meados da Segunda Guerra Mundial (1939–1945). Atualmente, existem cerca de uns 50 grupos, aos quais são denominados a partir da cidade em que são fundados, a exemplo de: Lubavitch, Vizhnitz, Satmar, e entre outros, cada um seguindo o formato proposto por cada Rebe em particular;


6.   Haredi – Esta linha se configura como sendo de extrema-direita (ultraortodoxa), com ares de radicalismo, pois, muitos não trabalham, não servem ao Exército de Israel, e ainda exigem que o Estado os sustentem, enquanto se dedicam aos estudos sagrados. Acreditam que a Torah é à base de tudo, e a sua forma de interpretação necessita ser 100% literal. Tal grupo é o mais radical do Judaísmo, e surgiu como uma tentativa de oposição ao Judaísmo Liberal, colocando uma ênfase de contrariedade para cada ação tomada pelos liberais, exemplo: se no Judaísmo Liberal, não-judeus são bem-vindos, para os haredim, os não-judeus não são bem-vindos. Se os liberais se vestem de modo moderno, os heredim, deverão se vestir o mais reservado possível, e assim por diante.


Contudo, cabe ressaltar que, todas estas correntes e grupos (linhas) aqui apresentados, com exceção dos Humanistas, nenhum se coloca como contrário àquilo que está estabelecido na Torah, mas sim, combatem a forma com que as correntes ou grupos interpretam tais ordenanças. Além do mais, embora muitas fontes digam que o Estado de Israel só reconhece três correntes (Liberal, Conservador e Ortodoxo), o fato é que, Israel só reconhece duas correntes, pois, o grupo Conservador (Masorti) é uma linha dentro do Judaísmo Liberal, logo, torna-se redundante para esta finalidade, falar de Judaísmo Liberal e Conservador, uma vez que um está contido no outro.
Portanto, segundo os padrões corretos, as correntes reconhecidas são o: Judaísmo Liberal (com suas linhas) e Ortodoxo (com suas linhas). Os demais grupos ou alas, que não estão alinhados com estas duas grandes correntes, não são oficiais, isto é, não possuem conversões aceitas pelo Rabinato ou pela Agência Judaica para Israel. Mesmo que alguns de seus membros sejam reconhecidamente judeus, perante o Estado, sendo que, o Rabinato só reconhece conversões realizadas dentro dos critérios da ortodoxia; enquanto a Agência Judaica reconhece tanto o da ortodoxia, quanto as conversões do sistema liberal, por meio do encaminhamento das federações (por Estado) e confederações (por país), para finalidades de Alyiah.


26 junho 2018

Um breve histórico e legado do Judaísmo Liberal


AULA Nº 01 – 20 de Junho de 2018


O Judaísmo Reformista surgiu no final do século XIX, com o intuito de promover reparos na estrutura social judaica, ao qual, repercutia na crítica aos posicionamentos exclusivistas da ala ortodoxa do Judaísmo na Alemanha. Paralelo a este ambiente, surgiu na Europa ares de mudança e busca por melhorias no padrão de vida de muitos judeus, aos quais viviam em estado social deplorável, com raras exceções, considerando alguns grandes empresários, industriais e eruditas judeus.
Esse ambiente social, ao qual se tinha a necessidade de modificar-se, surgiu em meio às perseguições propagadas por grupos maioritários, presentes em países da Europa. Com isso, essa necessidade de mudança propiciou a constituição do princípio filosófico e político do Sionismo, ao qual teve na figura de Theodor Herlz, o seu principal divulgador.
A divulgação do sionismo entre as comunidades e guetos judaicos na Europa, aliado com o avanço das perspectivas de reforma do Judaísmo, influenciaram muitas ações pró-fundação do Estado de Israel, a exemplo do forte Lobby realizado na Inglaterra, ambiente que contribuiu com a criação da Keren Hayesod, em dezembro de 1920, instituição que visava (e ainda visa), a arrecadação financeira para eventual patrocínio de propostas sionistas, que visam o bem e o fortalecimento do Estado de Israel (ao qual seria fundado em 1948).

Fonte: WUPJ, 2018.
Em 10 de julho de 1926, é fundado a World Union for Progressive Judaism (WUPJ), conhecida como União Mundial para o Judaísmo Progressista, com o intuito de dar suporte político as ideias e concepções progressistas do Judaísmo, ao qual seria a responsável por aquilo que se entende como: Judaísmo Liberal, Reformista, Reconstrucionista e Conservador (Masorti), entendida no geral, como a ala centro-esquerda do Judaísmo, além da Open Orthodoxy, considerada ala esquerda numa visualização política.
Apesar de se utilizar muitos termos, cada grupo citado possui uma natureza específica – a exemplo dos Reconstrucionistas que vieram dos Reformistas, e os Conservadores, que vieram dos Reconstrucionistas. Porém, estão todos conectados a proposta enfatizada pelo Judaísmo Progressista/Liberal. Eis a razão de muitos serem favoráveis a uma concepção de modo aberto e, outros de modo mais conservador, pois, o Judaísmo Progressista, em sua esfera Reformista, não obriga ninguém a fazer aquilo que não se sente bem, ainda mais quando os costumes combatidos não são os que a Torah especifica, mas sim, o que as tradições humanas enfatizam, visando os seus interesses próprios.
Além disso, destaca-se que, ações conjuntas e alinhadas de instituições, a exemplo da WUPJ, Keren Hayesod e a Jewish Agency for Israel (Agência Judaica para Israel – fundada em 1929 –, sendo estas organizações, contribuintes ímpares para o Lobby em torno do processo de fundação do Estado de Israel, em 14 de maio de 1948. Uma das provas que o movimento liberal não visa o combate dos valores da Torah, mas sim, a manutenção do sentimento sionista, tendo como principal ferramenta, o fortalecimento do aspecto comunitário (social) do Judaísmo, como garantia de perpetuação dos valores judaicos.

A prova desta fundamentação, encontra-se nos objetivos da WUPJ, que é o de “garantir que todos os judeus tenham acesso a uma vida judaica vibrante e pessoalmente significativa que, possa melhor inspirá-los espiritualmente e garantir o futuro do povo judeu, seja no Estado de Israel ou em todas as nações”. Hoje, a WUPJ conta com um público de mais de 1.800.000 pessoas, presentes em mais de 50 países, distribuídos em 06 continentes, tendo a sua sede em Jerusalém.

Novos ventos, novos tempos


Aos poucos o Judaísmo no Maranhão vai tomando o seu devido rumo, e conseguindo o seu espaço significativo. Grupos e comunidades estão aos poucos sendo formados, nas cidades de Imperatriz, Grajaú, São Luís e Açailândia. Tais organismos que estão sendo formados, estão recebendo o apoio de grandes instituições judaicas, ligadas ao Judaísmo Liberal/Progressista. Uma ata de adesão foi assinada e enviada, em Dezembro de 2017, sendo que, um primeiro contato presencial de uma grande organização, foi estabelecido num evento de 3 dias, na cidade de Imperatriz, no mês de Fevereiro de 2018.

Com isso, o povo maranhense amante do Judaísmo e, desejoso em praticar e viver o mesmo com sinceridade e honestidade, terão a oportunidade de fazerem parte de uma destas comunidades, e viverem o Judaísmo que tanto buscavam. Que HaShem fortaleça este projeto no MA, além destas comunidades, que estão se fortalecendo nas cidades de Imperatriz, Grajaú, São Luís e Açailândia.