AULA Nº 02 – 27 de Junho de 2018
O Judaísmo é composto por
inúmeras definições, baseadas em várias e diferenciadas opiniões de grupos e/ou
indivíduos. Tal perspectiva pode ser evidenciada no quantitativo de divisões e
micro divisões existentes, que caracterizam o lodo sociopolítico do modo de
vida judaico.
Nesse sentido, cabe
ressaltar-se que existem três grandes esferas (esquerda, centro e direita), que
compõem suas específicas divisões (extrema-esquerda, esquerda, centro-esquerda,
centro, centro-direita, direita e extrema-direita), ao qual se ajustam os
grupos religiosos e sociais desta dinâmica.
Com base nesse pressuposto,
os grupos que representam o universo sociopolítico do Judaísmo, dentro de um
formato religioso ou filosófico, são: Humanistas, Judaísmo Liberal/Progressista
– com as linhas: Reformista, Reconstrucionista, Conservador (Masorti) –,
Centristas, Ophen Orthodoxy, Judaísmo Ortodoxo (e Ultraortodoxo) – com suas
linhas: Modern Orthodox, Dati Leumi, Ortodoxia não-Hassídica, Yeshivish,
Hassídico, e Haredi. Destes grupos ou alas mencionadas, uns são reconhecidos
pelo Estado de Israel, outros pelo Estado e o Rabinato, e outros, somente são
reconhecidos alguns indivíduos, que compõem tais alas (Humanistas e
Centristas).
Fonte: SILVA JÚNIOR, J. R., 2018. |
Assim, eis a definição de
cada um destes mencionados:
ü Humanistas – Ala de
extrema-esquerda, composta por indivíduos não-religiosos (em muitos casos até
ateus), que possuem como foco a natureza humana e suas produções, a exemplo de Karl
Marx (1818 – 1883), e entre outros, que são judeus reconhecidos pelo Estado de
Israel, mas, não acreditam ou não dão ênfase a nenhuma figura Divina ou
religiosa.
ü Judaísmo Liberal/Progressista – Esta
corrente de cunho centro-esquerda surgiu no leste-europeu, no século XIX, com o
intuito de promover uma oposição às contradições da ortodoxia judaica da época.
Para essa corrente, é Judeu (ou Judia), tanto os(as) filhos(as) de mãe judia,
quanto os(as) filhos(as) de pai judeu, ou quem fez um beit din liberal ou ortodoxo. Desta corrente, surgiram os seguintes
grupos (linhas):
1.
Reformista
–
Esta linha foi à primeira do Judaísmo Liberal, sendo ela fundada na Alemanha,
no século XIX, vindo a ganhar força ao chegar aos EUA, por volta de 1840. É
composto por duas micro divisões: os reformistas clássicos e os
tradicionalistas. Para esta linha a Torah
é à base de tudo, sendo que, sua principal convicção está no fato de que as
leis são universais, logo, se adequam as necessidades da vida cotidiana, em
sinal de evolução do homem, e do conceito de atemporalidade da Torah, com forte ênfase na inclusão
social. Sendo que homens e mulheres possuem os mesmos direitos, logo, podem ser
ordenados a cargos religiosos;
2.
Reconstrucionista
–
Esta linha é o resultado da divisão ocorrida com o movimento Conservador, sendo
assim, trata-se da divisão de uma divisão do Judaísmo Reformista, considerando
que o Judaísmo Conservador é fruto de uma divisão dos reformistas, ou seja, os
reformistas se dividiram, formando os conservadores, que se dividiram formando
os reconstrucionistas, em meados dos anos de 1920 a 1940. Para esta linha a Torah é à base de tudo, e sua ênfase se
encontra no constante processo de evolução do ser humano, e na sua respectiva
capacidade de tomar decisões democraticamente, transformando o mundo em sua
volta. Sendo que homens e mulheres possuem os mesmos direitos, logo, podem ser
ordenados a cargos religiosos;
3.
Conservador
(Masorti) – Esta linha surgiu após a década de 1850, na
Alemanha, ganhando forças ao chegar aos EUA, no início do século XX. Sendo
esta, o resultado de uma divisão do Judaísmo Reformista. Conforme as demais
linhas do Judaísmo Liberal, para os conservadores a Torah é à base de tudo, sendo que acreditam que por mais evolutiva
possa se apresentar a contemporaneidade, as mitzvot
necessitam manter-se inalteráveis. Sendo que, homens e mulheres possuem os
mesmos direitos para o serviço religioso em algumas sinagogas, enquanto em
outras, apenas os homens possuem esse direito.
ü Centristas – Ala
genuinamente central, composta por indivíduos religiosos mas que não se
identificam com um grupo religioso específico, a exemplo de Albert Einstein
(1879–1955), e entre outros, que são judeus reconhecidos pelo Estado de Israel,
mas, não participam de grupos religiosos.
ü Ophen Orthodoxy – Conhecida
como Ortodoxia Aberta, este grupo pertence à ala central do Judaísmo político e,
embora utilize o termo ortodoxia, não possui nenhum vínculo com o sistema
ortodoxo. Tal grupo foi fundado recentemente, pelo rabino Avi Weiss, ao qual
pertencia a Modern Orthodox, ligada a ortodoxia de centro-direita do Judaísmo.
A mesma, defende a igualdade de gênero, por meio do ordenamento de homens e
mulheres aos cargos de lideranças religiosas, além de realizar oposição a
alguns critérios ortodoxos, a exemplo do combate ao exclusivismo, razão pela
qual as mulheres passariam a ter os mesmos direitos em relação aos homens.
ü Judaísmo Ortodoxo – Esta
corrente de cunho centro-direita, direita e extrema direita do Judaísmo
político, surgiu como continuidade daquilo que se acredita como a sequência dos
grandes atributos históricos e filosóficos do Judaísmo, pautado na Halachá e
ensinamentos difundidos por grandes sábios do povo judeu, ao longo dos séculos.
Para esta corrente, só é Judeu (ou Judia), quem é filho(a) de mãe Judia, ou se
converteu num beit din ortodoxo. Além
de que, homens e mulheres não possuem os mesmos direitos, em se tratando de
cargos ou funções da vida religiosa. Desta corrente, surgiram os seguintes
grupos (linhas):
1. Modern Orthodox – Esta
linha se configura como sendo de centro-direita, foi criado a partir de 1935,
nos EUA, por meio da necessidade de muitos membros em seguir uma ortodoxia e,
ao mesmo tempo, que não fosse desvinculada com a realidade contemporânea. A
exemplo dos demais grupos ortodoxos, a Torah e os demais livros dos sábios
judeus renomados, são a base de sustentação espiritual e social. Dos grupos
ortodoxos, este é o mais aberto, considerando a capacidade de cada membro
seguir os padrões da Halachá e, ao mesmo tempo, adequando cada lei a sua rotina
específica. Nesse sentido, torna-se comum numa sinagoga Ortodoxa Moderna,
encontrar-se judeus das mais variadas formas, seja no modo de se vestir, ou de
se posicionar;
2. Dati Leumi – Esta
linha se configura como sendo de direita, tendo surgido ao final do século XIX,
a partir da necessidade de manter-se o padrão de vida ortodoxo, conciliado a
interesses políticos ligados a fundação do Estado de Israel. Com isso, tal
grupo presa o fator político sionista, tal como presa o fator espiritual;
3. Ortodoxia não-Hassídica – Este
grupo se configura como sendo de direita, tendo sido criado em meados do século
XVIII na Europa. Os mesmos possuem como ideologia, o princípio de que todas as mitzvot necessitam ser observadas, tal
como foram entregues no Sinai. A divisão do ensino entre “escolas para meninos”
e “escolas para meninas”, revelam o quanto são restritos e exclusivistas,
diferenciando-se das demais correntes mais acirradas da ortodoxia, pelo fato de
considerarem importante alguns estudos seculares e a utilização controlada do
uso das tecnologias;
4. Yeshivish – Este
grupo se configura como sendo de direita, embora não seja uma divisão oficial
da ortodoxia judaica (por não terem um organismo sistemático próprio), mas, é
um grupo que na prática existe, sendo formado por alguns membros do judaísmo
ortodoxo norte-americano, em geral, que possuem algo em comum, que é o fato de
falarem, agirem e viverem, como se estivessem 24h dentro de uma Yeshivah, independente do local que
estejam, ou com quem estejam;
5. Hassídico – Esta
linha se configura como sendo de direita, a mesma foi fundada em meados do
século XVIII, por meio da influência dos ensinamentos de Baal Shem Tov. Tal
grupo tem como principal aspecto, o credo aprofundado no misticismo judaico,
além de possuírem uma rigorosa assiduidade em relação à Halachá, ao ponto de que, se na Halachá for solicitado que um judeu mantenha a distância de 2m de
uma mulher, os hassidim manterão 5m
de distância. Ao longo da história, já houveram mais de 100 grupos, até meados da
Segunda Guerra Mundial (1939–1945). Atualmente, existem cerca de uns 50 grupos,
aos quais são denominados a partir da cidade em que são fundados, a exemplo de:
Lubavitch, Vizhnitz, Satmar, e entre outros, cada um seguindo o formato
proposto por cada Rebe em particular;
6. Haredi – Esta
linha se configura como sendo de extrema-direita (ultraortodoxa), com ares de
radicalismo, pois, muitos não trabalham, não servem ao Exército de Israel, e
ainda exigem que o Estado os sustentem, enquanto se dedicam aos estudos
sagrados. Acreditam que a Torah é à base de tudo, e a sua forma de
interpretação necessita ser 100% literal. Tal grupo é o mais radical do
Judaísmo, e surgiu como uma tentativa de oposição ao Judaísmo Liberal,
colocando uma ênfase de contrariedade para cada ação tomada pelos liberais, exemplo:
se no Judaísmo Liberal, não-judeus são bem-vindos, para os haredim, os
não-judeus não são bem-vindos. Se os liberais se vestem de modo moderno, os
heredim, deverão se vestir o mais reservado possível, e assim por diante.
Contudo,
cabe ressaltar que, todas estas correntes e grupos (linhas) aqui apresentados,
com exceção dos Humanistas, nenhum se coloca como contrário àquilo que está
estabelecido na Torah, mas sim, combatem a forma com que as correntes ou grupos
interpretam tais ordenanças. Além do mais, embora muitas fontes digam que o
Estado de Israel só reconhece três correntes (Liberal, Conservador e Ortodoxo),
o fato é que, Israel só reconhece duas correntes, pois, o grupo Conservador
(Masorti) é uma linha dentro do Judaísmo Liberal, logo, torna-se redundante para
esta finalidade, falar de Judaísmo Liberal e Conservador, uma vez que um está
contido no outro.
Portanto,
segundo os padrões corretos, as correntes reconhecidas são o: Judaísmo Liberal (com suas linhas) e Ortodoxo (com suas linhas). Os demais
grupos ou alas, que não estão alinhados com estas duas grandes correntes, não
são oficiais, isto é, não possuem conversões aceitas pelo Rabinato ou pela Agência
Judaica para Israel. Mesmo que alguns de seus membros sejam reconhecidamente
judeus, perante o Estado, sendo que, o Rabinato só reconhece conversões
realizadas dentro dos critérios da ortodoxia; enquanto a Agência Judaica
reconhece tanto o da ortodoxia, quanto as conversões do sistema liberal, por
meio do encaminhamento das federações (por Estado) e confederações (por país),
para finalidades de Alyiah.
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